quarta-feira, dezembro 28, 2005

Cenas Belas - Mito de Sísifo/"A Missão"

Uma das cenas mais belas e arrepiantes da história do cinema. A Missão, de Roland Joffé (1986).
Robert De Niro (Rodrigo Mendoza) é um fratricida, depois de ter surpreendido a mulher comungando o leito com o seu irmão; soldado; comerciante e assassino de indígenas no Brasil do séc. XVI. Comido pelo remorso pelo seu crime, arrepende-se e junta-se a missionários jesuítas na evangelização dos “bárbaros” amazónicos.
A Espada e a Cruz. Leva consigo as armas do seu passado recente e carrega-as no avançar que os religiosos fazem pela selva. Amarrado a si uma corda. Na ponta da corda as armas de toda a vida.
Num dos inúmeros barrancos a carga teima e teima em voltar ao sopé. Mendoza volta à base e recomeça tudo de novo. Os religiosos observam aquele expiar dos pecados de Mendoza. Um dos padres (Liam Neeson) não suporta mais aquela desesperada expiação e corta a corda. Nada a fazer. Recomeço de tudo.
A pena dura.
O grupo atinge uma aldeia de indígenas. Um dos habitantes reconhece Mendoza como aquele que perseguiu e matou. Agarra-o. Faca na garganta, mão na garganta. Mendoza deseja aquele sacrifício. A faca corta. Não a garganta mas a corda. A Redenção chega. O perdão de quem merecia matar.
Mendoza chora. Pelo desespero. Pelo irmão morto. Pelo renascer. Por tudo o pouco que é sua vida naquele momento.

Os escritores irão perdoar-me a pobre sinopse.

Uma das cenas que mais me marcaram. Me fizeram chorar. E a banda sonora...
Anos mais tarde identifiquei aí, misturados e fundidos, vários mitos e referências.
O Mito de Sísifo. A conversão de São Paulo.
Força vs Perdão. Raiva vs Calma. Paz vs Inferno.

É um filme belíssimo sobre aquilo que é ser Pessoa.
O carregar do fardo e continuar. O perdoar e o esquecer. O mudar e melhorar.
O avançar, sempre avançar.

3 comentários:

lobo das estepes disse...

bem, em primeiro lugar gostava de dar os meus parabéns pela sinópse (do filme) bem conseguida, que os escritores se aguardem, que está aqui mais um, premissor....
De resto gostava, se me for permitido, tentar embelecer com mais uma adaptação feita ao míto de Sísifo por uma cantora (actriz, bom vivante e seguidora de Sísifo) que era mais da época da minha mãe do que da minha, mas que tem um lugar especial no meu coração. Aqui vai uma adaptação da canção original (e agora sou eu que peço desculpas pela susceptível adaptação) a seguir ao original. não junto a canção por deficiência intelecutal em informatica, lol17 Milímetros, canção e, consequentemente, adaptação de Hildegard Knef

17 Millimeter

Dass es gut war, wie es war, das weiß man hinterher
Dass es schlecht ist, wie es ist, weiß man gleich
17 Millimeter fehlten mir zu meinem Glück
Und schon warf`s mich tausend Meilen zurück

Und da steh ich nun, und da lieg ich nun Wie ano damals jener Sisyphus
Und beginn nochmal,
Zum wievielten Mal im Tal
Wie noch jedes mal

Wer rollt den Stein den Berg hinauf
Und gibt nicht auf und gibt nicht auf, und gibt nicht auf
Der Mensch nur, ja, wer sonst wohl als der Mensch

Doch dass es gut war, wie es war, das weiß er hinterher
Dass es schlecht ist, wie es ist, das weiß er gleich
17 Millimeter felhlten mir zu meinem Glück und schon warf’s mich tausend Meilen zurück

Und was hilft`s mir, dass ich oben war
Dass ich den Gipfel um ein Haar erreicht


Ich muß, sprach Sisyphus und er nahm den Stein trug ihn allein den gleichen Berg hinauf
Ich, die Erbin jenes Sisyphus, ich tu`s ihm gleich
Folg geduldig seinen Spuren, Schritt für Schritt
Denn wer glaubt zum ungezählten Mal und gibt nicht auf
Der Mensch, wer sonst wohl als der Mensch

Dass es gut war, wie es war, das weiß man hinterher
Dass es schlecht ist, wie es ist, das weiß man gleich
17 Millimeter fehlten mir zu meinem Glück
Und schon warf`s mich tausend Meilen zurück 17 Milímetros

Só depois é que se sabe que era bom como foi
Logo é que se sabe que está mal como está
17 milímetros faltavam-me para a minha felicidade
E já ela me tinha atirado mil milhas para trás

E estou aqui de pé e estou aqui deitada
Como naquele tempo aquele Sísifo
E começo de novo,
já não sei pela quanta vez, no vale
Como todas as vezes

Quem empurra a pedra montanha acima
E não desiste e não desiste

O Homem, sim, quem mais do que o Homem

Só que apenas depois é que se sabe que era bom como foi
De imediato é que se sabe que está mal como está
17 milímetros faltavam-me para a minha felicidade
E já ela me tinha atirado mil milhas para trás
De que me serve que tenha estado lá em cima
Que por um fio de cabelo não alcancei o cume
Eu tenho, disse Sísifo, e pegou na pedra e carregou-a sozinha, a mesma montanha acima
Eu, a herdeira daquele Sísifo, imito-o

Sigo pacientemente as suas pegadas, passo a passo
Pois quem acredita pela infinita vez e não desiste
O Homem, quem mais do que o Homem


Só depois é que se sabe que era bom como foi
De imediato é que se sabe que está mal como está
17 milímetros faltavam-me para a minha felicidade
E já ela me tinha atirado mil milhas para trás

Isabela Figueiredo disse...

O mito de Sísifo não é acordar todos os dias?

Esplanando disse...

para não falar da bela banda sonora do morricone...