sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Genuflexão



Para quem não viu (ou esqueceu) a excelente adaptação de Elia Kazan à peça de Tennessee Williams:
Esse momento em que Stanley Kowalski (homem áspero, masculino no pior e no melhor sentido) ajoelha perante Stella quase não precisava de enquadramento.
Mas faço-o; simples.
A cena surge após um momento de raiva, gerado após perda ao jogo, em que Stanley despeja as suas frustrações em Stella. Discussão violenta, um escondido fazer queixa dos “meninos-maus”, um pedido de ajuda, mas, na prática, um momento de extrema violência, após o qual, o Homem sai de casa, embriagado.
Pátio comum.
Stanley grita, clama, berra – “Hey Stella!”. Tinha caído. Estava de joelhos. Precisava do seu unguento, a sua cura, da sua redenção. Chama por ela.
Os vizinhos vêm à janela.
Stella surge na varanda.
Começa a descer.
A genuflexão como símbolo de arrependimento, de adoração, de respeito…mas também de veneração pela Mulher geradora (não nos esqueçamos que Stella estava grávida) de Vida.
No abraçar da cabeça de Stanley, encostada ao seu ventre, há, para mim, toda uma simbologia – a aceitação de tudo o de irracional do amor de Stanley nas suas entranhas, o oferecer do descanso supremo, o interior que se expõe….o dar, recebendo.

Não sei o que me dirão as feministas, que devem odiar o personagem Kowalski; para mim é um homem simples, ama de uma forma dura, excessiva e singular, porque masculina. Comete exageros, erra mas fundamentalmente…vive.

P.S. - a imagem não é do filme...não a encontrei...

4 comentários:

Alma disse...

Os comentários estão abertos; feministas, não-feministas, pós-modernistas, classicistas e todos os e as istas...

Isabela Figueiredo disse...

EU SOU FEMINISTA
Feminista é um conceito como pós-modernista, ou seja, homens e mulheres podem ser feministas. E são-no, felizmente, cada vez mais, mesmo quando negam a classificação. Como já disse no meu blog há uns tempos, interessam-me mais as práticas que o nome que se lhes dá. Mas ser feminista é importante. Ser feminista é lutar por uma justiça social, política e económica, para TODOS.


Penso, sobre violência, aquilo que esrevi hoje em "Não há rapazes maus".
Não conheço a peça, mas, para dizer a verdade, estou cansada de textos cheios de hormona masculina, cheios de uma visão do mundo absolutamente centrada nos interesses masculinos que não servem ninguém, muito menos os homens.

Alma disse...

Isabel:
"Ser feminista é lutar por uma justiça social, política e económica, para TODOS."
Isso nãp é (ou deveria ser) a definição de: católico, humanista ou Homem ou Mulher?
Percebo o teu conceito de Feminista mas é tão abrangente que podem caber lá 50 grupos (a prática é uma coisa diferente...).
As práticas que citas gostava de as conhecer para me poder pronunciar.

Em relação ao meu conceito de feminista (e relembro que não foi esse o tema do meu post, foi "puxado" pela Pandora...) do pouco e mal que o conheço só posso afirmar que é uma mera negação de todas as práticas negativas masculinas, ou seja, não há propostas novas, verdadeiramente alternativas, mas apenas a negação do "mau".
Parece-me necessário mas não suficiente.

Ana disse...

Relatividade existencial.