terça-feira, janeiro 24, 2006

Chomsky e Avenida Corrientes



Montra de livraria. Calle Corrientes, Buenos Aires.
Espero que o cigarro morra antes que entre.
“Como es posible que Chomsky sea tan caro!? Conoces Chomsky?”
Ainda perdido, procurando alguém a meu lado a quem fosse dirigida a pergunta, viro-me.
“Si; lo hay leído en portugués y en ingles. Sabes que soy portugués?”
Quem me fazia a pergunta era uma senhora bem vestida, dos seus oitenta anos, não baixando os olhos dos meus.
Pareceu-me culta, não pela pergunta, mas pelo ar perfeitamente indignado com que o fez.
O preço da cultura.
Senti que estava perante uma Argentina que fora culta, instruída e actualizada.
Agora só lhe restava olhar e cobiçar aqueles nacos expostos na Avenida das livrarias. E indignar-se.
Chomsky era um novo Che.
O verdadeiro havia sido exportado involuntariamente, fruto de uma excelente educação mesclada com o carácter rebelde dos argentinos.
Haviam dado à luz um dos revolucionários e agora não podiam comprar as palavras do americano.
“Que nos quieren hacer? Que nos quieren hacer!!”
Afastou-se orgulhosa e indignada.

O que me deixa preocupado não é a eleição do Cavaco.
O que me deixa preocupado é que em Portugal nunca ninguém se me queixou do preço do Chomsky…

8 comentários:

Anónimo disse...

Conto contigo para me mostrares o Chomsky.

Então?

ana disse...

bom, o chomsky. também não será com cavaco que a cultura será mais barata.

Alma disse...

Zeni: a única coisa que posso fazer é dar-te algumas referências...

Ana: e a vontade em ler? Será maior?

Anónimo disse...

o problema é mesmo o Cavaco! Que cultura democrata tem um homem como ele? ... o que mais assusta é que em toda a campanha quis mostrar um home que não é! ...
Qt à Argentina, estamos a anos luz, tal como da Irlanda, dos países de leste. A minha empregada tem mais cultura que o meu presidente da Câmara! Isto é grave, meu senhor!

Anónimo disse...

Reconheço que me excedi no meu ataque de fúria no bloguex, daí deixar aqui o meu pedido de desculpa. Quanto ao linguista filósofo e activista americano, além de me queixar do preço dos seus livros, penso que no seu profundo inatismo descura a importância do empirismo, no sentido da pouca importância que dá à imitação e à prática no processo de aprendizagem, tal como o acusa Ryle, procura preencher o vazio apenas com "nuvens de glória biológica". Quanto a Buenos Aires infelizmente só conheço a "fervorosa" do Borges.
Ps- convenci-me de que não podemos ter visto o mesmo filme.

Alma disse...

Heloisa nau - não conheço o Ryle mas fiquei deveras curioso relativamente a "nuvens de glória biológica".
Gostava de prosseguir esse conceito, em privado (mail) ou em público.

LA disse...

Eu li qualquer coisa a dizer que o tal Chomsky era o maior intelectual vivo!! Nem preciso de lêr nada dele para achar isso uma estupidez incrível! O gajo era só um linguista! que é um linguista pode mudar ou afectar o mundo?!
Realmente os livros estão muito caros, é uma grande estupidez. no natal quis comprar o Romance da Raposa, uma edição que tem dezenas de anos, e custava 22 euros!! que chuleira!
luis

Alma disse...

Em relação ao Chomsky-linguista quem te pode falar melhor é a Delta; assim já poderás "Delta, eu irei verificar o que tu vales..." in persona...
As posições políticas do Chomsky não sei se poderão mudar o mundo; pelo menos a mim mudaram a minha visão do como vejo os EUA (acredita que conheço alguma coisa daquele país).

Os livros estão caros; mas no caso que falas envio aqui um link para um podcast(como se diz em português)onde o poderás encontrar; é gratuito!
Fazem tanta falta (pelo menos a mim) os audiobooks em português!
http://72.9.248.26/~raposa/