terça-feira, março 28, 2006

O Louco convertido, os Alienados e às vezes…Vozes!

Nasceu no meio de Vozes que não deixavam ouvir Música. Ouviu-as.
Depois ouviu a Voz da Cruz. Seguiu-a, para a terra de Beethoven.
Regressou à Terra dos Alienados, que não ouvem senão as suas Vozes, para ajudar a dar Voz a quem a não tem.
Querem-no crucificar por ouvir a Voz do Crucificado.
Talvez continue a vociferar se chegarem à conclusão que ouve Vozes…


“O Supremo Tribunal do Afeganistão decidiu interromper o julgamento de um afegão convertido ao cristianismo, que segundo a lei islâmica poderia ser condenado à pena de morte, abrindo assim a possibilidade de uma eventual libertação por "incapacidade mental".
"Pessoas próximas a Abdul Rahman afirmam que ele não está no controle das suas capacidades mentais, que está louco e ouve "vozes estranhas na sua cabeça". Remetemos o seu caso ao procurador-geral para que realize uma investigação exaustiva", declarou à AFP o porta-voz do Supremo Tribunal, Wakil Omari.
O Supremo Tribunal afegão decidiu suspender o processo de Rahman, de 41 anos, detido há três semanas em Cabul por apostasia (abandono da Fé) do Islão, acto que, segundo a "sharia" (lei islâmica) merece a pena capital.
Agora o procurador-geral de Cabul terá de decidir, uma vez concluída a investigação, se envia o caso para um tribunal ou se retira as acusações e liberta o acusado, precisou Omari. As pressões têm sido muitas. O papa Bento XVI pediu no sábado ao Governo afegão para conceder a graça àquele cidadão convertido ao cristianismo. E no Angelus de ontem, manifestou a sua solidariedade com os cristãos "perseguidos pela sua fé" e os que vivem em países onde "não existe liberdade religiosa".
Vários responsáveis governamentais afegãos também se manifestaram nos últimos dias a favor da libertação de Rahman, o protagonista de um caso que gerou uma onda de indignação nos países ocidentais que financiam o Governo afegão e a reconstrução daquele país e, em particular, nos EUA, principal apoio financeiro e militar do presidente afegão, Hamid Karzai, agora numa situação difícil.
Por um lado, Karzai é criticado pelos ocidentais, que lhe pedem o respeito pela liberdade de culto; por outro, é criticado pelos círculos religiosos conservadores afegãos, que querem o respeito à lei da sharia e, portanto, a execução de Rahman.
Aquele afegão converteu-se ao Cristianismo há 16 anos, quando trabalhava para uma ONG cristã no Paquistão. Depois, viveu nove anos na Alemanha, antes de regressar ao seu país em 2005.”
JN, 28/03/2006

(James Tissot, "
Inner Voices (Christ Consoling the Wanderers)", 1885)

9 comentários:

Anónimo disse...

Julgamento? Condenação? Pena de Morte? Incapacidade mental?

Exigem liberdade religiosa para poderem usar o véu em países não islâmicos mas recusam essa mesma liberdade aos seus cidadãos??

Salseira disse...

"Liberdade".

Esta é uma das minhas palavras preferidas: na forma e no conteúdo!

Aproveitando as palavras da Zeni:

Sempre me fizeram confusão as pessoas que utilizam conceitos em que não acreditam para defenderem as suas ideias.

Anónimo disse...

... mas se o afegão convertido fosse um homosexual tenho quase a certeza de que o papa limitar-se-ia a mandar um assobio para o ar, e fazer de conta que não era nada com ele. Isto das religiões tem muito que se lhe diga. Quiça não seja o imperativo categórico kantiano a solução para estas questões?

Alma disse...

Heloisa:
Limitei-me a por os dados na mesa e a contar a minha história.
Não falei em Papa (sim, com maiúscula).
Se o Papa (em que não me revejo) tivesse a hipotética reacção
discriminatória que sugeres isso desculparia a outra?
A resposta é demasiado óbvia para que continue...
A questão não foi posta como "a minha religião é melhor do que a tua";
antes surgiu como um exemplo de duas sociedades, diferentes e em que o
poder da religião é diferente e admite a diferença, se "confrontam"...
Para o bem e para o mal...

Anónimo disse...

Meu querido alma tem lá calma, não foi isso de todo o que quis dizer. Percebi perfeitamente a mensagem, só acho que não vale a pena dizer o que já está dito. É claro que não concordo com este tipo de situações. O meu comentário foi só uma pequena nota quanto a comportamentos fundamentados em religiões exactamente quanto a diferenças. Referi por acaso que te revias no papa, ou que a hipotética reacção desculparia a outra? Ou ainda que a questão foi posta como "a minha religião é melhor do que a tua"?
Se os estados na europa não fossem laicos será que admitiam outros cultos? O que se passou na idade média? Simplesmente considero de uma tremenda hipocrisia esse discurso por parte do Papa (de maiuscula ou minuscula, como queiras), para não me alargar em relação aos EUA. Estamos entendidos?

Alma disse...

Cara Heloisa,
Pela minha parte não fiquei de todo esclarecido com as tuas achegas.
1-Discuto o posicionamento de determinados estados/grupos/religiosos na actualidade.
Como tal, foi minha intenção criticar um enquadramento socio-religioso que clama por não ser ofendido na sua religiosidade (vide, por exemplo, o caso dos cartoons dinamarqueses) mas que, simultaneamente, impede a liberdade religiosa, querendo aplicar a pena capital aos "infractores".
Se quiseres recuar no tempo, a discussão é outra. Critico o Homo x por ter extinguido o Homo y, nos primórdios. Queres recuar tanto ou basta-te ir à Idade média? É que se vamos por aí...
2- Bem haja pelos estados europeus serem laicos. E democráticos (não esqueçamos o carácter laico mas não democrático da ex-URSSS, entre outros exemplos). Foi e deve ser a "marca" que nos defende de todos os radicalismos, sejam eles religiosos (cristãos, muçulmanos ou outros), políticos ou culturais (porque não posso eu acabar com os djambés nas praias? Just kidding!) ou outros.
3- Quando referi "a minha religião é melhor do que a tua" não me dirigia a ti. Dirigia-me a todas as religiões e respectivos confrontos, que afastam o verdadeiro ecumenismo da realidade.
4- Critica o Papa. No fucking problem. Pode ser que te ajude. Se tiveres razão.

:)

P.S.: por favor não me digas para ter calma...

Anónimo disse...

sim eu percebi isso tudo, so what?
que é que o homo x e y tem a ver para o caso? Realmente, criticar o papa é uma terapia para mim, vou aproveitar que vou agora a roma para o desancar, quiça fique curada(just kidding). Não percebo porque te enervas tanto!
;)
:)

Alma disse...

Em relação aos Homo's é reduzir, pelo absurdo, a questão de descontextualizarmos temporalmente as questões.
Vê o Papa...não a vale a pena ir a Roma sem...

Lu disse...

Fiquei perdida com a questão do papa, ou Papa. Acho que a nossa sociedade precisa de líderes espirituais, mas não os encontro na igreja católica...

O que me revolta nesta história é o facto de sermos tolerantes à presença islâmica nos países ocidentais e “eles” não serem tolerantes à nossa presença nos países deles. Já estive num país desses e até tive receio de andar de sandálias depois de ter visto um polícia a insultar uma mulher que andava com os pés descobertos. Já nem falo do véu com as temperaturas à volta dos 40º e do facto dos meus cabelos terem começado a cair...